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Investigación

O projeto é uma vídeo-performance-instalação baseada no conceito de videoarte que vem sendo difundido em todo mundo, relacionando e interagindo com diversas linguagens artísticas. Constitui de projeções simultâneas de videosdanças projetados em looping. Entre as projeções, há móbiles confeccionados pela artista plástica Ana Clara Badia Guinle, com garrafas pet, vidros e demais tipos de recipientes recicláveis. As projeções também são feitas de formas não convencionais conforme a disponibilidade dos espaços.

 

A performance conta com textos e poesias, voz em off e a bailarina que ora compõe a imagem projetada, ora cria afastamentos e estranhamentos em relação ao todo como efeito de distanciamento.

 

A proposta conceitual é de uma denúncia poética da degradação ambiental e do progresso utópico e desenfreado em que vivemos na atualidade. As atuais noticias veiculadas na mídia sobre a falta de água, destruição de reservas ambientais, poluição de rios, mares e lagos, extinção de espécies variadas de seres vivos são causa e efeito das relações do homem com o meio em que vive e convive, ao mesmo tempo em que necessita, o agride. Tratamos do diálogo entre a dança e o meio urbano, mais especificamente, a poluição urbana (sonora, ambiental e visual) e a arquitetura dos espaços.

 

O projeto visa uma reflexão das nossas ações e reações sobre nosso lugar no mundo, nosso bairro, nossa cidade, nosso país, nosso planeta, buscando formas de reverter esse quadro.

 

As imagens projetadas contam ainda com a pesquisa em dança sobre as possibilidades do corpo no espaço, enfocando: corpo suspenso, corpo submerso, corpo flutuante e corpo terrestre. A construção coreográfica parte dos princípios geradores dos movimentos baseados nos Fundamentos da Dança de Helenita Sá EARP nos parâmetros Movimento, Espaço e Forma, Dinâmica e Tempo, (UFRJ/BR), a favor da observação da relação entre seres humanos x meio ambiente. Seguindo esses parametros, pesquisamos as possibilidades do corpo no espaço urbano, as relações com meio construído (formas, cores, materiais/texturas) e o diálogo dinâmico entre movimento/dança e os sons da cidade; as relações de tempo através do trânsito, da pressa, da incomunicabilidade e, do lugar e da importância da imagem para comunicação nos grandes centros industriais. Partindo da simplicidade para complexidade na construção do roteiro a-linear[1] e na construção dos movimentos da dança abstrata e expressiva, ou seja, que não pretende descrever sentidos concretos para o entendimento literal da imagem, mas imagens, sentidos e sensações próprias do inconsciente, relacionados e interpretados conforme experiências de cada espectador. Viabilizando o sentido de contemporaneidade, a dança é construída através de laboratórios temáticos para construção de roteiros e improvisações, deixando abertas as possibilidades de movimentos de acordo com as relações do presente.

 

[1]           É uma linearidade subjetiva como forma, não se contrapondo a ela, nem sujeitando-se.

 

INTRODUÇÃO

 

Temos como referência geral a estética impressionista francesa na literatura, cinema e artes visuais (pintura e escultura) aplicadas nos movimentos de câmera, construção de figurino e poesias. Essa estética consiste nas impressões do artista em relação aos ambientes que vive, convive e/ou passa. Os conceitos da sintaxe visual das artes plásticas direcionam as opções e escolhas na filmagem e na edição; normalmente, esses conceitos são utilizados para entender e elaborar forças de composição coreográfica, como ponto, linhas curvas, retas e angulares, diagonais e jogos de deslocamento e direções, mas aqui, adaptaremos para linguagem audiovisual.

 

O roteiro do vídeo cria ligações entre movimentos da dança contemporânea, criados a partir de laboratórios temáticos sobre leituras e experiências no meio urbano; e a poluição presente na cidade, com a qual convivemos o tempo todo. Os efeitos da poluição no decorrer dos anos, transforma dia-a-dia os seres que criam, compartilham e, ao mesmo tempo, são vítimas dessa situação cíclica. A poluição afeta diretamente o corpo do ser humano se entendermos corpo como composição orgânica, emocional e psicológica. Doenças das mais variadas que afetam nossa organização corporal natural e nos colocam em situações limite em relação à percepção do ar, da água e dos sons, causando tosses, espirros, mal humor, estresse, dentre outras consequências.

 

O corpo responde às provocações ambientais de maneira natural, e a dança traduz poeticamente esses efeitos/reações buscando uma reflexão social implícita à arte; revelamos os malefícios da falta de planejamento e educação ambiental a fim de preservar e reparar os danos ao ambiente e consequentemente a nós mesmos.

 

Segundo SCHIVARTCHE[2], desde 1970, a TV brasileira recebe seriados e filmes cujos personagens são causadores e/ou vítimas da poluição, o que já revelava um ‘embrião da consciência ecológica’. Ele atenta também, para o desenvolvimento desenfreado de países como Estados Unidos e União Soviética, após a Guerra Fria; e China, que no mesmo momento saía do comunismo para o capitalismo. No Brasil tivemos a entrada de hidroelétricas e demais indústrias, gerando áreas de intensa urbanização, com estrutura de cidades megalópoles, inclusive com suas favelas, “esgoto a céu aberto, invasões de mananciais, destruição de mata nativa...”.

 

É importante entendermos que a poluição do ar é causada principalmente pela fumaça da queima de gases tóxicos de indústrias e veículos de transporte movidos por combustíveis derivados do petróleo como carros, caminhões, aviões e trens. A poluição ambiental tem causas mais variadas, de um papel de bala jogado no chão ou esgotos domésticos não tratados às indústrias que contaminam lençóis freáticos, rios e mares com lixo e dejetos de suas produções. A poluição sonora é a excessiva produção de sons e ruídos que causem danos à saúde, o que ocorre em centros urbanos com grande circulação de automóveis e elevado índice de congestionamento, além de áreas de construções, indústrias e próximas a aeroportos. A poluição visual é a degradação da paisagem natural com lixo, pichações, outdoors e placas publicitárias, luminosos, fios elétricos, cartazes, folhetos e pôsteres espalhados e amontoados por toda cidade, causando agressão e incômodo visual.[3]

 

Todos esses conceitos nos levam a pensar e refletir o papel do artista como difusor de propostas para melhorias na vida social geral, questionando o papel da arte nas transformações de hábitos cotidianos. Essa é a principal motivação para produção do projeto, que visa a previsão de um futuro sustentável.

 

Adaptamos movimento de corpo e camera a favor da fotografia: ângulos, posições, iluminação, planos, etc. Os ambientes foram escolhidos conforme as possibilidades de interação, levando em consideração as situações do corpo no espaço. 

 

A narrativa cria menos história e mais sensações estéticas através da combinação de imagens e movimentos, gerando identificação e estranhamento ao mesmo tempo, permitindo uma relação entre o espaço do espectador, o espaço da tela e o espaço da performer. Tendo em vista uma platéia contemporânea, o trabalho busca instigar os espectadores a pensar e interpretar, visto que o corpo percebe e responde quando é impactado sensorialmente pelas diversas formas artísticas. O meio urbano é conhecido e reconhecido, causando uma identificação rápida, as texturas ficam por conta das imagens (ângulos, cortes, cores, etc.), as percepções sonoras estão entre sons ambientes e produzidos, entre ruído e música, causando certo estranhamento, assim como a a-linearidade do roteiro.

 

A música  intercala momentos que condizem com os movimentos da bailarina e da câmera, e outros de transgressão em relação à imagem causando diferenças de composição e distorção.

 

A metodologia está no aprofundamento teórico e interdisciplinar e nos laboratórios para direcionamento dos roteiros-improvisações (dança e câmera) para que, nos momentos de gravação e performance gere um jogo entre todos os membros da equipe, e o espectador; e consequentemente todas as linguagens artísticas propostas.

 

Não pretendemos estabelecer necessariamente uma obra acabada/finalizada, mas um estado potencial, pressupondo uma finalização provisória, aberta a demanda criativa, discursiva e em constante processo de desenvolvimento.

 

JUSTIFICATIVA

 

O trabalho tem como justificativa as relações entre linguagens e suas estéticas em prol de uma experimentação com apresentação em formato de vídeo-instalação-performance; a intrínseca relação entre arte e sociedade, tratando de um tema constante na vida moderna, a poluição.

 

Acreditamos que nos dias atuais, o projeto "A poética da vida em poluição" tem consistente relevância para sociedade em geral, uma vez que pode ser aplicado pedagogicamente para crianças e adultos, tendo em vista a reflexão da preservação ambiental e a linguagem artística, que é lida e entendida por todos os seres sensíveis esteticamente, independente da idade. Pode ser apresentado em congressos, seminários e encontros tanto de dança como de Biologia e Ecologia por tratar de temáticas – dança contemporânea, vídeo e poluição – que introduzem demais pesquisas em eventos específicos.

 

A grandiosidade dos Fundamentos da Dança criados por Helenita Sá EARP são base para qualquer trabalho independente da área, pois partem de princípios humanos naturais e geradores de processos dos mais simples aos mais complexos. 

 

 

[1]           Helenita Sá EARP é Professora Emérita do curso de Bacharelado em Dança da Universidade Federal do Rio de Janeiro desenvolveu uma metodologia e técnica de ensino e criação em dança aplicada nos cursos de graduação em Dança na Escola de Educação Física e Desportos.

 

[2]                SCHIVARTCHE, Fabio. Poluição Urbana: As grandes cidades morrem. Você pode salvá-las. Coordenação de texto: Lourenço Dantas Mota. São Paulo: Editora Terceiro Nome – Mostarda Editora , 2005 (p.9).

 

[3]                SCHIVARTCHE, Fabio. Poluição Urbana: As grandes cidades morrem. Você pode salvá-las. Coordenação de texto: Lourenço Dantas Mota. São Paulo: Editora Terceiro Nome – Mostarda Editora , 2005 (capítulo 1 – O que é poluição?).

 

[4]           A sigla significa United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization, em português, Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Como exemplo mais famoso de patrimônio da UNESCO no Rio de Janeiro, temos o Cristo Redentor.

 

[5]           UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro.

 

METODOLOGIA

 

A investigação da Poluição Urbana se dá através do suporte teórico das bibliografias indicadas e das experiências diárias. Levando em consideração as doenças causadas pelo excesso de gases tóxicos, a escassez de água limpa (atualmente temos o caso da Reserva de Água de São Paulo, a Represa Guarapiranga (Brasil), como um dos exemplos mais graves), perda de níveis de audição, estresse, depressão, etc.; pensamos como levar essa afetação aos limites corporais e traduzi-la em dança. Esse caminho árduo levou a uma infinidade de temáticas em laboratórios de dança e vídeo.

 

A metodologia utilizada nos laboratórios é a partir dos conhecimentos técnicos e filosóficos dos Fundamentos da Dança; para a câmera esses Fundamentos foram adaptados, em seus princípios metodológicos e através das referências do cinema impressionista.

 

Os Fundamentos da Dança aplicados no audiovisual ajudam a desenvolver, de um lado, momentos de criação através das percepções e afetações (momentos de roteiros e improvisações) e de outro, base técnica criativa, preparando o corpo disponível e aberto, mas treinado a diversas variações de formas, dinâmicas, movimentos e tempos.

 

A investigação do diálogo entre a dança e a poluição urbana não pretende ser imposta nem criar conceitos fechados, mas a partir da experiência em work in progress[1], identificar elementos de convergência e divergência entre eles; e das possibilidades de criação, gerar uma dinâmica própria e singular de troca, fala-escuta como numa conversa/discussão, entendendo que esse processo é natural entre todos os seres presentes na terra.

 

Das artes plásticas e da literatura levaremos em consideração as relações criadas entre artista e espaço/ambiente de trabalho e de inspiração como na estética do Impressionismo Francês. A câmera revela as impressões que temos das locações, as sensações e possíveis distorções na imagem. Os figurinos também serão criados a partir dessas impressões e referências, tendo como base o estudo de transparências e cores, texturas, formas e composições através de suporte teórico e visualizações de cenários, pinturas e esculturas da época.

 

Utilizaremos como base para criação de imagens poéticas, as técnicas de fotografia cinematográfica e a edição impressionistas e contemporâneas a exemplo de outros videodanças e videoartes.

 

A interação entre poesia, dança e vídeo se dá através das referências videográficas, da pesquisa de autores e textos impressionistas, da leitura compartilhada com a equipe e da investigação dos formatos possíveis de apresentação dessa poesia.

 

A relação entre conceitos impressionistas e contemporâneos em seus princípios fundamentais, o estudo do roteiro e a investigação de interação entre as linguagens dão ao trabalho interdisciplinar a reflexão do processo de construção do vídeo, levando em consideração cada passo, e o resultado potencial.

 

 

 

[1]                 Trabalho ou obra artística em constante processo de elaboração.

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